AIEA alerta que Irão está pronto para aumento drástico de ‘stock’ de urânio quase ao nível de produzir armas nucleares
AIEA alerta que Irão está pronto para aumento drástico de ‘stock’ de urânio quase ao nível de produzir armas nucleares
Manama, 06 dez 2024 (Lusa) — A Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) alertou hoje que o Irão está pronto para aumentar “drasticamente” o seu ‘stock’ de urânio enriquecido quase ao nível para produção de armas nucleares, tendo já iniciado a instalação de centrifugadoras avançadas.
As declarações do diretor da AIEA, Rafael Grossi, surgiram apenas algumas horas depois de o Irão ter anunciado que realizou um lançamento espacial bem-sucedido com a carga mais pesada de sempre, o mais recente do seu programa que o Ocidente alega servir para melhorar o programa de mísseis balísticos de Teerão.
O lançamento do foguetão Simorgh ocorreu numa altura em que o programa nuclear iraniano enriquece urânio a 60%, a um passo curto e técnico dos níveis de 90% necessários para produzir armas atómicas.
Embora o Irão afirme que o seu programa é pacífico, os responsáveis da República Islâmica ameaçam cada vez mais produzir a bomba e um míssil balístico intercontinental que permitiria a Teerão utilizá-los como arma contra inimigos distantes, como os Estados Unidos.
Grossi, falando à comunicação social à margem da conferência Diálogo de Manama, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, no Bahrein, indicou que os seus inspetores tencionam ver quantas centrifugadoras tem o Irão a funcionar, depois de o Governo ter informado a agência dos seus planos.
“Penso que é muito preocupante: eles (os iranianos) estavam a preparar-se e tinham todas estas instalações como que em suspenso e agora estão a ativá-las. É o que vamos ver”, disse Grossi.
“Se realmente as ativarem – a todas elas – vai ser um salto enorme”, acrescentou.
Um comunicado da AIEA emitido pouco depois das declarações de Grossi refere que o Irão começou a alimentar duas cascatas de centrifugadoras avançadas IR-6 com urânio previamente enriquecido até 20%.
Cascatas são um grupo de centrifugadoras que giram o gás de urânio em conjunto para enriquecer mais rapidamente o urânio. As centrifugadoras IR-6 enriquecem o urânio mais rapidamente do que as centrifugadoras IR-1 de base do Irão, que têm sido o pilar do programa atómico do país.
“A informação atualizada sobre o ‘design’ das instalações demonstrou que o efeito desta alteração será o aumento significativo do nível de produção”, refere o comunicado da AIEA.
O Irão não admitiu de imediato tais preparativos. A missão iraniana junto das Nações Unidas não respondeu até agora a um pedido de comentário da agência de notícias norte-americana, Associated Press (AP).
O Irão sempre negou procurar dotar-se de armas nucleares e afirma que o seu programa espacial, tal como as suas atividades nucleares, tem fins unicamente civis. No entanto, as agências de serviços secretos norte-americanas e a AIEA afirmam que o Irão teve um programa nuclear militar organizado até 2003.
Entretanto, o lançamento de hoje ocorreu no Porto Espacial Imam Khomeini, na província rural iraniana de Semnan, cerca de 220 quilómetros a leste de Teerão. Este é o local onde se situam as instalações do programa espacial civil do Irão, que teve uma série de lançamentos falhados do Simorgh no passado.
O Simorgh transportou o que o Irão descreveu como um “sistema de propulsão orbital”, bem como dois sistemas de investigação para uma órbita de 400 quilómetros acima da Terra. Um sistema que pudesse alterar a órbita de uma nave espacial permitiria ao Irão geossincronizar as órbitas dos seus satélites, uma capacidade que Teerão tenta há muito tempo adquirir.
Também transportou o satélite Fakhr-1 para as Forças Armadas iranianas – a primeira vez que se sabe que o programa civil do Irão transportou um carregamento militar.
O Irão avaliou a carga útil do Simorgh em 300 quilos, mais pesada do que todos os seus anteriores lançamentos bem-sucedidos no país. A televisão estatal transmitiu imagens de um correspondente a falar do peso transportado pelo Simorgh no momento em que este descolou em direção ao céu, enquanto as pessoas que assistiam gritavam: “Deus é o maior!”.
Não houve confirmação imediata e independente de que o lançamento foi bem-sucedido. O Exército norte-americano remeteu perguntas para o Comando Espacial do país, que não respondeu.
Este anúncio surge num momento em que as tensões aumentam no Médio Oriente devido à guerra que Israel continua a travar contra o movimento islamita palestiniano Hamas na Faixa de Gaza e à manutenção de um cessar-fogo incerto com o grupo xiita Hezbollah no Líbano.
Os Estados Unidos afirmaram anteriormente que os lançamentos de satélites pelo Irão desafiam uma resolução do Conselho de Segurança da ONU e apelaram a Teerão para que não levasse a cabo qualquer atividade que envolvesse mísseis balísticos capazes de transportar armas nucleares. As sanções da ONU relacionadas com o programa de mísseis balísticos do Irão expiraram em outubro de 2023.
“O trabalho do Irão em veículos de lançamento espacial – incluindo o seu Simorgh – provavelmente encurtaria o período necessário para produzir um míssil balístico intercontinental, se decidisse desenvolver um, porque os sistemas usam tecnologias semelhantes”, lê-se num relatório da comunidade de agências de serviços secretos dos Estados Unidos divulgado em julho.
Durante o mandato do relativamente moderado antigo Presidente do Irão Hassan Rouhani, a República Islâmica abrandou o seu programa espacial, por receio de aumentar as tensões com o Ocidente.
O seu sucessor, de linha dura, Ebrahim Raisi, um protegido do líder supremo ‘ayatollah’ Ali Khamenei que chegou ao poder em 2021, impulsionou o programa. Raisi morreu num acidente de helicóptero em maio.
O atual Presidente do Irão, o reformista Masoud Pezeshkian, que tem dado sinais de querer negociar com o Ocidente sobre as sanções, ainda não apresentou uma estratégia no que diz respeito às ambições do Irão no espaço.
O lançamento do Simorgh representou uma estreia para o seu Governo, no que diz respeito ao programa espacial civil do país. Em setembro, a Guarda Revolucionária paramilitar do Irão efetuou com êxito um lançamento do seu programa paralelo.
ANC // SCA
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